17 de jan. de 2011

Os Santos e os Carismas - Introdução

Espírito Santo - Vitral da Basílica de São Pedro

Esta é uma revisão/atualização do artigo "Os Santos e os Carismas", de nossa autoria, escrito e publicado entre 2007 e 2008. Aqui ele será publicado em partes, em uma série de pequenos artigos. Os dados apresentados são baseados nos escritos, biografias e relatos da vida dos santos da Igreja, facilmente encontrados em livrarias (católicas ou não) e na Internet. E também em Documentos da Igreja e no Catecismo da Igreja Católica, que trata dos carismas nos parágrafos 768, 798 a 801, 910, 951, 1508, 2003 e 2014. Esta série estará em constante revisão. Qualquer erro em seu conteúdo pode e deve ser apontado.

O Espírito Santo atua continuamente no Corpo de Cristo, que é a Igreja, desde os tempos da Igreja primitiva até os nossos dias, sem interrupção. Ele opera, por exemplo, pela Palavra de Deus, pelos Sacramentos, pelas virtudes e pelas múltiplas graças especiais (chamadas de "carismas").

Os carismas são graças do Espírito Santo para a edificação da Igreja. São favores extraordinários concedidos principalmente para o bem dos outros. São graças gratuitamente dadas por Deus a quem Ele quer. Em 1Cor 12, 4-11 mencionam-se nove carismas: palavra de sabedoria, palavra de ciência, fé, dons de cura, milagres, profecia, discernimento dos espíritos, línguas e interpretação das línguas. Outras passagens do Novo Testamento mencionam diferentes carismas (Rm 12, 6-8, 1Cor 12, 28-31, Ef 4, 11-12 e I Pe 4, 9-11).

O Sagrado Magistério, na Constituição Dogmática Lumen Gentium (12), nos ensina que "estes carismas, quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com ação de graças e consolação, por serem muito acomodados e úteis às necessidades da Igreja" (interessante distinção feita neste Documento entre carismas "mais elevados" - extraordinários, conforme outras traduções - e "mais simples e comuns").

A presença destes dons na Igreja, desde o seu nascimento, não é novidade. Novidade mesmo é a ênfase que se tem dado a relatos sobre experiências pessoais e coletivas envolvendo, supostamente ou não, a ação do Espírito Santo, desde a origem do movimento pentecostal e de suas vertentes. E no centro das atenções está o dom de línguas. Como resultado, muitas pessoas ficam confusas e se perguntam: Os dons carismáticos voltaram a se manifestar nos tempos modernos? Sumiram após a era apostólica? Por que se fala tanto e se busca tanto o dom de línguas? Será que sempre é verdadeiro?

De fato há "dons carismáticos" falsos (falsas curas, falsas profecias, etc), movidos pela pessoa mesma e não pelo Espírito Santo. Por esta razão é preciso cautela, é preciso discernimento.

O Catecismo da Igreja Católica, nos parágrafos 800 e 801, deixa claro:

“Os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja, pois são uma maravilhosa riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo, contanto que se trate de dons que provenham verdadeiramente do Espírito Santo e que sejam exercidos de maneira plenamente conforme aos impulsos autênticos deste mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade, verdadeira medida dos carismas. É neste sentido que se faz sempre necessário o discernimento dos carismas. Nenhum carisma dispensa da reverência e da submissão aos Pastores da Igreja. “A eles em especial cabe não extinguir o Espírito, mas provar as coisas e ficar com o que é bom”, a fim de que todos os carismas cooperem, em sua diversidade e complementaridade, para o “bem comum” (1Cor 12, 7)”.

E na Lumen Gentium, 12, lemos:

"Não se devem porém, pedir temerariamente, os dons extraordinários nem deles se devem esperar com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua autenticidade e reto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. 1 Tess. 5, 12. 19-21)."

O Espírito Santo nunca abandonou a Igreja. Isto é promessa do Senhor (cf. Jo 14, 16). Mesmo considerando seu caráter extraordinário (não comum), os carismas sempre existiram na Igreja Católica, especialmente (mas não unicamente) entre os santos. Quantos dons! Quantas graças! Quantos milagres comprovados, levando valorosos cristãos para a honra dos altares! Quantas curas! Quantos testemunhos!

O que ocorre é que nem sempre são relacionados diretamente com os dons carismáticos bíblicos. A relação a que nos referimos é no sentido da linguagem usada. Relatos de êxtase espiritual, por exemplo, são comuns nas biografias e nos escritos de muitos santos (como em Castelo Interior ou Moradas, de Santa Teresa de Jesus). Este êxtase no Espírito pode ser, em muitos casos, talvez, identificado como efusão do Espírito Santo, ou repouso no Espírito.

Com o propósito de dar uma possível resposta a questões que perturbam e confundem muitos fiéis católicos, este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa sobre os carismas extraordinários na vida dos santos. Não é um estudo profundo sobre a vida e os dons especiais de cada santo, nem pretende encerrar o assunto. A Igreja tem milhares de santos conhecidos, ou seja, canonizados (e os desconhecidos, obviamente, é impossível numerar). Trata-se de um esboço, de uma “introdução”, que tem por objetivo demonstrar que, ao contrário do que muitos pensam, os carismas extraordinários nunca deixaram de ser derramados sobre a Igreja. Podem parecer novidades de nossa época, mas há provas dessa experiência em toda a história da Igreja Católica e não é exclusividade deste ou daquele movimento eclesial ou ordem religiosa, como veremos em alguns relatos sobre Santos de Deus que receberam dons carismáticos.

Continua...

Referências e leitura complementar:

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