"... se observa em certas regiões a tendência ao abandono da confissão pessoal, juntamente a um recurso abusivo à «absolvição geral» ou «coletiva» (...) Partindo de um alargamento arbitrário do requisito da grave necessidade, perde-se de vista praticamente a fidelidade à configuração divina do sacramento, e concretamente a necessidade da confissão individual, com graves danos para a vida espiritual dos fiéis e para a santidade da Igreja." (Papa João Paulo II, Misericordia Dei.)
Ontem, 31/03, testemunhei um fato que me deixou triste: um Padre, com a Igreja praticamente lotada, defendeu publicamente a chamada "confissão comunitária", contrariando a feliz iniciativa do Bispo de reconduzir o povo ao Confessionário. à Confissão Individual.
Até entendo muito do que foi dito pelo Padre. Mas discordo de muita coisa. Não porque seja minha opinião. Mas porque sei qual é o ensinamento da Igreja sobre a questão.
Por um momento meu coração exultou de alegria, por achar que finalmente estavam sendo tomadas providências sobre a forma como a Confissão vem sendo dispensada na Diocese. Por um momento acreditei que o erro seria reconhecido e corrigido. Mas saí decepcionado.
Concordo que uma mudança abrupta pode gerar um trauma. Que o povo, que foi ensinado e acostumado com a "confissão comunitária", irá ter problemas e dificuldades com uma mudança radical assim, de uma hora para outra. Neste sentido eu concordo com o Padre.
Penso - minha opinião - que a solução deveria ser gradual, que deveria acontecer pouco a pouco. Que levasse um, dois, três anos. Mas que o erro fosse corrigido, com uma renovação da catequese sobre o Sacramento da Confissão, com o esclarecimento do que é o certo e do que é o errado.
Sim. Do que é o certo e do que é o errado! De que a Confissão Individual é o correto. E de que "confissão comunitária" - como diz o Pe. Quevedo - non ecziste! Não existe, logo, não é Sacramento.
Confissão: é assim que se faz! |
O que existe, para casos excepcionais, é a Absolvição Coletiva ou Geral. Mas é somente para situações de grave necessidade, como em casos de calamidade ou guerra. E mais: a Absolvição Coletiva exige posterior Confissão Individual dos pecados graves (nunca vi um Padre falar isso nas ditas "confissões comunitárias" que já participei - mas que não participo mais).
O Bispo está certo. Talvez sua atitude para sanar o problema, pastoralmente falando, não tenha sido a mais acertada. Mas o argumento está embasado, corretamente, na Doutrina e na Lei.
Achei gravíssimo a forma como o Padre induziu - ou pareceu induzir - o povo a se voltar contra a iniciativa do Bispo de corrigir a administração da Confissão na Diocese. Que o método adotado pelo Bispo fosse criticado. Mas não a sua razão.
Mais triste ainda foi ouvir o Padre insinuar - ou pareceu insinuar - que a Lei da Igreja é um fardo, que a Confissão Individual é um fardo. Que isso é coisa de hipócritas... E ainda se justificar apelando para o Evangelho, para a Palavra de Deus, para a Misericórdia de Deus.
Não podemos esquecer que, para nós católicos, Palavra de Deus é Tradição e Escritura (cf. Verbum Domini, 18), e que seu legítimo intérprete é o Magistério da Igreja (cf. Dei Verbum, 10). E que a norma para a celebração válida e lícita dos Sacramentos é fruto da Tradição, da Escritura e do Magistério.
E como a Confissão Individual pode ser uma fardo, como pode ser pesada?
Não seria justamente o oposto? Não é justamente de uma atenção individual que as pessoas estão precisando, para aliviar o seu fardo? E não é justamente o Sacerdote, no confessionário - com a autoridade e em nome de Jesus (cf. Jo 20,23) - quem pode proporcionar o que muitos católicos ainda não experimentaram: o encontro pessoal com Jesus Misericordioso, com Jesus que perdoa o pecador arrependido e o recebe de volta?
Será que a "confissão comunitária" faz isso?
Ou será que não é apenas uma "porta larga" para aqueles que não querem ou temem conflitar-se verdadeiramente com seus limites, erros, pecados? Afinal, na "confissão comunitária", de fato, ninguém confessa nada...
Sem falar que, para muitos Padres, é muito cômoda.
No entanto, se atender Confissões Individuais é um fardo, com certeza é um fardo que santifica. Teríamos Padres muito mais santos e fiéis se tivéssemos mais Padres - deveríamos ter todos - no confessionário. Não tenho dúvida.
Para maiores esclarecimentos, sugiro a leitura Carta Apostólica Misericordia Dei, do Beato João Paulo II. E do Catecismo da Igreja Católica, n. 1482 a 1484.
A CNBB publicou um documento mais ou menos recente que trata da questão da Absolvição Geral (documento 90). Vale a pena conhecer - e torná-lo conhecido: 90: Legislação Complementar ao Código de Direito Canônico para o Brasil sobre a Absolvição Geral
Espero aqui, com estas palavras, estar exercendo o direito que tenho como católico de receber os Sacramentos. Porque eu, como pecador que sou, preciso deles, especialmente da Confissão, para poder me aproximar dignamente da Eucaristia.
Um apelo, uma prece: não deixem passar este momento da graça. Que os erros do passado fiquem para trás. Que reconheçam que o que foi feito até aqui não estava de acordo com o que a Santa Mãe Igreja, com a autoridade de Jesus e sob a guia do Espírito Santo, ensina. Se fizeram errado é porque aprenderam errado ou desobedeceram deliberadamente. Mas que acertem, com a Igreja, daqui pra frente.
2 comentários
Amigo, vc está certo no que pondera e em reclamar seu direito de batizado à santa confissão. Porém, vc em o direito de saber que apenas os pecados graves carecem da confissão e absolvição pessoal por um sacerdote.Em minha paróquia realizo uma Celebração, com leitura da Palavra de Deus, homilia, "enunciação" de uma série de pecados veniais (os fiéis são convidados a baer no peito a cada vez que se reconhecem num deles). Ao final, dou a absolvição para os pecados veniais e fico à disposição (já fui até às duas da manhã) para atender os que o desejarem ou tiveem pecados graves. Li tudo que existe a respeito do assunto e não consigo encontrar nenhuma linha de reprovação ao que faço! Sou padre há 25 anos e amo este sacramento que celebro e ao qual recorro sempre que necessário.Mas, de acordo com o CDC, NINGUÉM é obrigado a confessar os pecados veniais, embora seja altamente recomendável. Se a gente não oferece a oportunidade de perdão sacramental a quem não tem consciência de pecado grave, a não ser a confissão individual com o padre...não estaríamos impondo algo além do que a própria lei da Igreja impõe? Fique com Deus.
Caríssimo PACarlos, sua benção,
O Ato Penitencial - na Santa Missa - perdoa os pecados veniais. Então, a tal celebração que o senhor promove é, a princípio, desnecessária.
Mas nem mesmo o Ato Penitencial substitui a Confissão Individual..
A disciplina dos Sacramentos é clara: a Absolvição Coletiva só pode ser dada nos casos previstos (veja os documentos que citei no post). O Documento 90 da CNBB é bastante claro e completo. Além dos documentos que citei, existem outros, que posso citar se necessário.
O princípio que o senhor usa para legitimar tal celebração é o mesmo que justifica os tandos abusos litúrgicos. Desculpe.
No entanto, esta celebração que o senhor promove pode servir muito bem como preparação para a Confissão Individual (desde que não haja absolvição coletiva!).
Veja o que diz o Catecismo no n. 1482:
"O sacramento da Penitência pode também ter lugar no âmbito duma celebração comunitária, na qual se faz uma preparação conjunta para a confissão e conjuntamente se dão graças pelo perdão recebido. Neste caso, a confissão pessoal dos pecados e a absolvição individual são inseridas numa liturgia da Palavra de Deus, com leituras e homilia, exame de consciência feito em comum, pedido comunitário de perdão, oração do Pai Nosso e ação de graças em comum."
Uma coisa é certa e é inegável: a "confissão comunitária" (ou seja, a Absolvição Coletiva dada de forma ilícita - sem respeitar o requisitos legais de grave necessidade) afasta as pessoas da Confissão Individual!
Não sou eu quem diz isso. É a Igreja de Jesus.
Paz e Bem