"A coerência do compromisso ecumênico com o ensinamento do Concílio Vaticano II e com toda a Tradição foi um dos âmbitos ao qual a Congregação [para a Doutrina da Fé], em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, sempre prestou atenção. (...) devemos reconhecer também que o risco de um falso irenismo e de um indiferentismo, totalmente alheio à mentalidade do Concílio Vaticano II, exige a nossa vigilância. (...) Sem a fé todo o movimento ecumênico se reduziria a uma forma de «contrato social» ao qual aderir por um interesse comum, uma «praxiologia» para criar um mundo melhor. A lógica do Concílio Vaticano II é completamente diversa: a busca sincera da plena unidade de todos os cristãos é um dinamismo animado pela Palavra de Deus, pela Verdade divina que nos fala nesta Palavra.
O problema crucial, que marca de modo transversal os diálogos ecumênicos, é portanto a questão da estrutura da revelação — a relação entre Sagrada Escritura, a Tradição viva na Santa Igreja e o Ministério dos sucessores dos Apóstolos como testemunha a fé verdadeira. E aqui é implícita a problemática da eclesiologia, que faz parte deste problema: como chega até nós a verdade de Deus. Entre outras coisas, é fundamental o discernimento entre a Tradição com maiúscula, e as tradições. (...) Um passo importante deste discernimento foi feito na preparação e na aplicação das disposições para grupos de fiéis provenientes do Anglicanismo, que desejam entrar na plena comunhão da Igreja, na unidade da Tradição divina comum e essencial, conservando as próprias tradições espirituais, litúrgicas e pastorais, que são conformes com a fé católica (...).
(...) é preciso enfrentar com coragem também as questões controversas, sempre no espírito de fraternidade e de respeito recíproco. Além disso, é importante oferecer uma interpretação correta daquela «ordem ou “hierarquia” nas verdades da doutrina católica» (...). Têm também grande relevância os documentos de estudo produzidos pelos vários diálogos ecumênicos. Esses textos não podem ser ignorados, porque constituem um fruto importante, mesmo se provisório, da reflexão comum amadurecida ao longo dos anos. De igual modo, eles devem ser reconhecidos no seu significado justo como contributos oferecidos à Autoridade competente da Igreja, a única chamada a julgá-los de modo definitivo. Atribuir a estes textos um peso vinculante ou quase conclusivo das questões difíceis dos diálogos, sem a devida avaliação por parte da Autoridade eclesial, em última análise, não ajudaria o caminho rumo à plena unidade na fé."
Excertos do discurso do Papa Bento XVI aos participantes na Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé (27/01/2012) - grifos nossos.
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